sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Da lama ao caos

Pois a dor destrói o louco, e a inveja mata o tolo. Jó 5:2


Chico Science foi uma morte precoce das mais dolorosas. Lembro de ter ficado uns dois minutos sem ação, olhando para o nada. Tava aqui pensando nele. Em uma frase que meu amigo Yusseff diz sempre. O Yusseff é um aloprado que largou tudo em Manaus e veio para Meca, vulgo Brasília. A frase é a seguinte: “Recife é um balaio de caranguejos”. Em princípio não entendi, mas o Yusseff explicou. É que quando os caranguejos estão presos no balaio e um deles tenta escapar, os outros o puxam para baixo. Assim, todos ficam na mesma merda.
Hoje tenho a sensação de que estou no balaio de caranguejos. Ando contente. Simples assim. Contente, feliz. O que já apareceu de caranguejo me puxando de volta para o balaio não está no gibi. Culpar a inveja, embora seja fácil, sempre me parece complicado. Parece prepotente e, no fundo, até meio besta. Enfim... zapeando por aí encontrei um texto excelente sobre o diálogo existente entre as músicas do Chico Science e Josué de Castro, intelectual recifense que “mapeou o drama da fome no Brasil”, segundo sua página oficial. Segue o trecho, encontrado no blog Morada Boa e, lógico, a música para vocês curtirem. E, como diria Zé Simão, hoje só amanhã que eu vou pingar o meu colírio alucinógeno!

Josué de Castro chama de “ciclo do caranguejo”, ou ainda “ciclo da fome”:
“São duzentos mil indivíduos, duzentos mil cidadãos feitos de carne de caranguejos. O que o organismo rejeita volta como detrito para a lama do mangue para virar caranguejo outra vez.Nesta aparente placidez do charco desenrola-se, trágico e silencioso, o ciclo do caranguejo. O ciclo da fome devorando os homens e os caranguejos, todos atolados na lama.” (CASTRO, 2007: 27)




quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

A revolta do telefone

Esses dias uma camarada veio até a minha sala dizer que sim, eu estava certa, havia mesmo baratas dentro do meu telefone. Disse isso numa naturalidade absurda, quase como se mascasse chicletes. O ministério é tomado por baratas, para quem não sabe. É preciso conviver com elas. É, portanto, uma realidade absurda. O final feliz, para os revoltados como eu, é a escrita. Quando tomam corpo, as palavras ficam importantes. É como se assumissem um cargo de confiança. Ando lendo Bukowski - Misto Quente, para ser clara. Fico pensando em como ele descreveria o barulho das baratas dentro do telefone. Já me peguei reescrevendo frases dele só para senti-las minhas. Tem uma, em especial, que sonho ter escrito. “Eu não disse mais nada porque, quando você sente ódio, a última coisa que deseja é suplicar...”.
Fiquei calada quando o camarada disse: - o telefone funciona, só posso trocá-lo se estiver quebrado.
Meu final feliz, nesse caso, é ler Bukowski e sentir nojo do telefone.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Intuição, acreditar ou não??


Essa história de intuição é uma faca de dois legumes. Tudo bem: temos lá mecanismos estranhos de captação da realidade. Ocorre que ficar o tempo todo xaropando, com frases do tipo “sinto isso, sinto aquilo”, é das coisas mais chatas da história. E tem outra: nossos sentidos falham. Os olhos falham, o tato falha, o paladar falha...Por que essa história de que a intuição é infalível? Infalível uma ova! Eu já ouvi mil vezes, de amigas e de mim mesma, coisas do tipo: “eu sinto que ele é cara certo” ou “sinto que ainda teremos algo”. Minha gente, isso não é intuição, isso é vontade! Acho que intuição é justamente o oposto disso. É aquela coisinha insuportável que, no meio de um jantar lindo, incorpora o grilo falante e diz: “Hum... aí tem treta!” ou “Segura que lá vem!”. É isso! Para diferenciar intuição de vontade, me pego com meus santos e mando logo a história de “dê-me sabedoria para distinguir uma da outra!”. Enfim, estou desabafando. Ando cansada de ver amigas repetindo os mesmos erros e usando o argumento da sensibilidade para se esquivar. Na verdade, ando cansada da associação das palavras intuição com feminina. Homem também tem intuição, ou não? Acho um desserviço para as mulheres essa ligação entre gênero e sensibilidade. Ainda acredito que haja mulheres racionais e homens sensíveis.