quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Espiral de Preguiça


Sábado de mudança. Tarde de domingo pós mudança. A mulher está jogada no sofá. A gata pede comida. A mulher não levanta do sofá. A segunda gata pede comida.

A mulher levanta do sofá e vai colocar comida para as gatas. O saco é pesado e cai muita ração no prato. A mulher sabe que quando há muita ração as gatas passam mal. Ainda assim, vira as costas e volta ao sofá.

A primeira gata chega e vomita o excesso de ração. A mulher precisa levantar e limpar. Ela não vai. A segunda gata cheira o vômito da primeira. A mulher não levanta. A segunda gata come o vômito. O piso fica limpo. Tudo resolvido.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Síndrome de Dorothy

"Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar do calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar a lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver... Il faut aller voir - é preciso ir ver! É preciso questionar o que se aprendeu. É preciso ir tocá-lo." - Amyr Klink

A parte que eu mais gosto das palavras do navegador é a que fala sobre sentir a distância para estar bem sobre o próprio teto. Por mais curta que seja a distância, por pior que seja o teto.

Viajar é bom. Conhecer o desconhecido, reviver o conhecido; os mesmos lugares nunca são os mesmos, os outros lugares sempre têm um quê de mistério. É difícil não voltar saudosa de uma viagem. Saudosa do mundão que foi explorado e também do mundinho particular.

A nossa casa é em todo lugar, mas não há lugar como nosso lar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Como reforçar paradigmas


Aprendi com uma amiga que é no cotidiano que se constroem e se rompem preconceitos. Aquela piadinha racista que é contada dentro de casa, com o aval dos pais e tios, é um veneno que vai se entranhando indelevelmente na vida das pessoas. Declarar mesmo: sou racista sim e daí? ninguém declara. Mas sorrir de uma piadinha inofensiva, que mal tem?
Ora, meus caros amigos, não é preciso ser lingüista para atestar o poder persuasivo de uma declaração permeada de humor. Em nome de uma boa piada, vale tudo.
Um dos mais antigos tratados sobre retórica, o clássico “Como vencer um discurso sem precisar ter razão', do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, já citava o uso do humor como um dos mais poderosos recursos da retórica moderna.
Pois bem. Falemos então daquele objeto de entretenimento inofensivo, a televisão. Alguns chamam até de eletrodoméstico. É coisa muito semelhante ao liquidificador. Batem-se conceitos antigos, roupas da moda, estereótipos à vontade e o que temos? Acertou quem disse novela das oito, Rede Globo.
Mocinhas loiras de olhos azuis – para reforçar o padrão colonizado de beleza – homens cujo maior mérito é o simples carregar do falo e gays que se salvam no final da novela e retornam às sendas do bem e do amor heterossexual. Falta mais alguma coisa? claro que sim. A esposa infiel que é duramente castigada por Deus e os negros que resolvem deixar a vida de luxo e retornar aos seus devidos lugares em subempregos, apesar da formação impecável.
Fica então uma sugestão ao sr. João Emanuel Carneiro, autor de A favorita. A novela já bateu os recordes de audiência e essa é a última semana, então surpreenda-nos. As metas já foram atingidas, então porque manter a mediocridade de conceitos?
Seguem sugestões para o final dos personagens.

Halley: casa-se com Orlandinho e vive feliz.
Lara: ganha a vida como cover da Xuxa em festas infantis.
Donatela: casa-se com César Augusto, afinal os dois são românticos, caipiras e sequelados.
Zé Bob: Responde ao correio sentimental do jornal de Triunfo.
Maria do Céu: administra, junto com dona Sirlene e suas meninas, um prostíbulo de homens.
Silveirinha: substitui Heath Ledger e encarna o Curinga na próxima versão de Batman.
Tarcísio Meira: Volta para os Thundercats como Mumm-Rá, o de vida eterna.
Elias: é eleito prefeito mais popular do país depois de implementar uma política pública de resgate da auto-estima feminina.
Dedina: não morre e dá aulas de pompoarismo nos cursos patrocinados por Elias.
Damião: fica brocha.
Leonardo: se torna pastor da igreja universal.
Catarina: casa-se com Stela,a amiga gente fina.
Romildo Rosa: torna-se assessor do ACM Neto.
Alicia Rosa: ganha rios de dinheiro como garota-propaganda de escova progressiva e se casa com Cassiano.
Flora: encontra, na cadeia, o amor de sua vida, o banqueiro Salvatore Alberto Cacciola, aquele proprietário do falido Banco Marka, condenado por crimes contra o sistema financeiro no Brasil, foragido na Itália após seu banco ter recebido uma ajuda financeira do Banco Central do Brasil para cobrir prejuízos com operações de câmbio. Gente fina igual ela...

E por aí vai. Posso até escutar os tambores retumbantes e a voz do Silvio Santos: Vamos abrir as portas da esperança...

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Spend your time on me



No apagar das velinhas do ano velho, 2008 teve tempo de me reservar uma deliciosa descoberta. Já tinha ouvido em algum lugar sem dar a mínima bola, mas quando prestei atenção, meus ouvidos não quiseram parar de ouvir Duffy. A moça - só tem 24 anos - ficou conhecida com o single Mercy, que viciou olhos e ouvidos outros mundo afora e colocou a cantora do País de Gales nos topos das paradas em vários países.

Dizem que a fama toda de Duffy tem a ver com o bom momento do mercado soul-pop-retrô, em que a esquelética-junk Amy Winehouse é a representante mais famosa. Pode ser mesmo que o estilo das duas tenha a ver: voz forte, aveludada, às vezes suave, e, definitivamente, retrô. Mas a comparação entre elas não foi a primeira impressão que me veio à cabeça ao ouvir a galesa.

Culpado pela minha descoberta, o youtube me mostrou imagem e música, e eu vi figurino à la Jackie Kennedy, loirice e bocão de Marilyn Monroe e voz de Duffy mesmo. O resultado que me chegou foi uma mistura de referências femeninas batidas e ainda traços bem originais. Gostei.

Rockeferry é a canção que dá nome ao álbum de estréia e de cara dá a impressão de que esse é um disco melancólico, em que soul e pop bem casados embalam confissões de fossa como essa aqui: “I’m moving to Rockferry tomorrow / And i’ll build my house, baby, with Sorrow”.

É isso mesmo e ainda mais. O hit Mercy é pra cair na pista, mesmo que o tema ainda seja um coração partido. Duffy vai fundo nos desencontros. A minha música preferida é Syrup and Honey. Beeem retrô, parece um blues de diva consagrada na voz anasalada de Duffy. Dá uma olhada na primeira parte:

Don't you be wasting all your money
On syrup and honey
Because I'm sweet enough
Don't you be using every minute
On making a living
Because we've got our love
Listen to me, 1, 2, 3...
Baby, baby, baby spend your time on me...

Mais sobre Duffy

Nascida em Nefyn, no País de Gales, em 23 de junho de 1984, Aimee Anne Duffy prefere ser chamada pelo sobrenome para evitar comparações com a turbulenta cantora inglesa. Não evitou. O álbum de estréia, Rockeferry, lançado em março de 2008 não é bem um debut, já que reúne os singles lançados antes. O trabalho ganhou edição DELUXE em novembro do ano passado, com mais sete canções de bônus. De novo, algumas delas já eram conhecidas como singles. Pra ouvir tudo que a moça decidiu gravar é só baixar/comprar essa edição.

Site oficial
Duffy no myspace
Pra ouvir de graça, entre na lastfm