Um certo professor de matemática dizia que não dá pra comparar laranjas e bananas. A imagem é ótima. Não dá pra comparar país rico com pobre, gente que estudou a vida inteira e gente que só começou agora, roupa de festa com pijama. E a imagem tem a ver com o tanto de coisa que temos pra contar, tudo ao mesmo tempo: dicas de livros, filmes, músicas, impressões da vida, rotina de trabalho, contos, poesias e qualquer coisa incomparável ou não. Um monte de bananas e laranjas.
domingo, 29 de abril de 2012
Eu apanhei, tu apanhaste, ele/ela apanhou
domingo, 22 de abril de 2012
Cusparada de candanga
Uns poucos filhos, uns poucos poetas, uns poucos a cantar-te a generosidade, grande Brasília.
E tu, tão nobre.
Difamada por aqueles que passam e não são.
Tu és.
Tu és espaço.
Tu és cenário, perene.
Querida, tão difamada...
Crucificada apesar de aberta, como Cristo.
De mãos estendidas, sempre a cobrir de luxo os que te cospem na face.
Tão jovem, talvez a mais jovem dentre as grandes.
E tão cobrada, coitada, a caçula das capitais.
Como é grande a tua luta.
E como te levanta, sempre.
Tinge os dias de aquarela e segue.
Que recebes, querida?
Fecha tuas portas.
Oferece teu céu aos que te amam.
Mas não. Segues teu trajeto, a despeito da dor dos seus.
Hoje é teu aniversário. Que receberás?
Umas cusparadas, por certo. Outras ignonímias tantas.
Hoje é teu aniversário. Que receberás?
Uma festa, uns fogos, uns cantores – todos ávidos de dinheiro e carentes de amor a ti.
Terra minha, pudesse te abraçaria.
Por um minuto, te envolveria, Brasília, nos braços e sussurraria meu amor.
Hoje é teu aniversário, mãe querida.
Um brinde a quem me deu a vida!
sábado, 21 de abril de 2012
Brasília 52
quarta-feira, 18 de abril de 2012
Amarrada, eu??
Tinha os dentes de cima bons, bonitos. Os de baixo eram tortinhos, mas nunca liguei. Achava que essa lógica euclidiana e dodecassílaba valia lá para os parnasianos, não para dentes. Aqui, onde triturava os alimentos, onde mascava pedaços de coisas, salivava e babava, lambia doces, feridas e pessoas... aqui na boca - pensava eu com meus botões - é bem mais honesto que exista uma desordem aparente, ainda que pequena.
De mais a mais, gostava dos tortinhos, da marca da mordida nos copos de plástico e maçãs. Achava que era inconfundível. Um belo de um dia, surge uma dor de cabeça. Os dentistas já haviam avisado que o aparelho era necessário, que podia acarretar enxaquecas, que havia lá um desvio na mandíbula, etc. Resolvi consultar o dentista que, logicamente, culpou a mordida pelas dores de cabeça e traçou um método para corrigir a mordedura. Tudo muito calculado. Fotos, radiografias, moldes. Dois anos de tratamento. Dois anos?? – perguntei atônita. Dois anos ou o resto da vida com enxaqueca – foi a resposta, das mais cínicas, como se vê.
Isso foi há um ano e quatro meses. Faltam oito, portanto. Não há um só dia em que eu não pense no assunto. Seja pelos lábios grudados no ferro do aparelho quando acordo ou pelas babadas incontroláveis que solto quando converso. Fato é que o danado do aparelho não me dá sossego, permeia meu cotidiano, sempre indelicado e incômodo. É a vergonha de sorrir, a necessidade de explicar, a preocupação com a limpeza, a dor quando me bato sem querer, a dificuldade de morder, a saudade do sorriso nas fotos e mais um tanto de coisinhas.
Hoje tive um insight. É um casamento. É um casamento! Isso de conviver tão entrelaçadamente, de me sentir tão exposta e vulnerável, isso é como um casamento. Estou seguindo – assim como quando me casei – as recomendações da sociedade. Fazendo tudo certinho para alcançar um bem maior ali adiante. Isso ou o resto da vida com enxaqueca, certo? Aquilo ou o resto da vida com a dúvida, com o receio de não ter tentado, sozinha num apartamento com 15 gatos, três cachorros e um papagaio, certo? Sei não, heim... os que já tiraram o aparelho sempre dizem que, extraídas as porções de ferro, a sensação é de nudez, de vazio. “Você vai sentir até falta” – já me disseram também. Seguindo a lógica do insight, deve fazer falta mesmo, especialmente num primeiro momento. Mas olha, minha gente...ninguém tira da minha cabeça que minha vida será melhor sem o aparelho. ;)
P.S: Não convém digitar “aparelho” e “boca” na pesquisa de imagens do Google.