segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Como reforçar paradigmas


Aprendi com uma amiga que é no cotidiano que se constroem e se rompem preconceitos. Aquela piadinha racista que é contada dentro de casa, com o aval dos pais e tios, é um veneno que vai se entranhando indelevelmente na vida das pessoas. Declarar mesmo: sou racista sim e daí? ninguém declara. Mas sorrir de uma piadinha inofensiva, que mal tem?
Ora, meus caros amigos, não é preciso ser lingüista para atestar o poder persuasivo de uma declaração permeada de humor. Em nome de uma boa piada, vale tudo.
Um dos mais antigos tratados sobre retórica, o clássico “Como vencer um discurso sem precisar ter razão', do filósofo alemão Arthur Schopenhauer, já citava o uso do humor como um dos mais poderosos recursos da retórica moderna.
Pois bem. Falemos então daquele objeto de entretenimento inofensivo, a televisão. Alguns chamam até de eletrodoméstico. É coisa muito semelhante ao liquidificador. Batem-se conceitos antigos, roupas da moda, estereótipos à vontade e o que temos? Acertou quem disse novela das oito, Rede Globo.
Mocinhas loiras de olhos azuis – para reforçar o padrão colonizado de beleza – homens cujo maior mérito é o simples carregar do falo e gays que se salvam no final da novela e retornam às sendas do bem e do amor heterossexual. Falta mais alguma coisa? claro que sim. A esposa infiel que é duramente castigada por Deus e os negros que resolvem deixar a vida de luxo e retornar aos seus devidos lugares em subempregos, apesar da formação impecável.
Fica então uma sugestão ao sr. João Emanuel Carneiro, autor de A favorita. A novela já bateu os recordes de audiência e essa é a última semana, então surpreenda-nos. As metas já foram atingidas, então porque manter a mediocridade de conceitos?
Seguem sugestões para o final dos personagens.

Halley: casa-se com Orlandinho e vive feliz.
Lara: ganha a vida como cover da Xuxa em festas infantis.
Donatela: casa-se com César Augusto, afinal os dois são românticos, caipiras e sequelados.
Zé Bob: Responde ao correio sentimental do jornal de Triunfo.
Maria do Céu: administra, junto com dona Sirlene e suas meninas, um prostíbulo de homens.
Silveirinha: substitui Heath Ledger e encarna o Curinga na próxima versão de Batman.
Tarcísio Meira: Volta para os Thundercats como Mumm-Rá, o de vida eterna.
Elias: é eleito prefeito mais popular do país depois de implementar uma política pública de resgate da auto-estima feminina.
Dedina: não morre e dá aulas de pompoarismo nos cursos patrocinados por Elias.
Damião: fica brocha.
Leonardo: se torna pastor da igreja universal.
Catarina: casa-se com Stela,a amiga gente fina.
Romildo Rosa: torna-se assessor do ACM Neto.
Alicia Rosa: ganha rios de dinheiro como garota-propaganda de escova progressiva e se casa com Cassiano.
Flora: encontra, na cadeia, o amor de sua vida, o banqueiro Salvatore Alberto Cacciola, aquele proprietário do falido Banco Marka, condenado por crimes contra o sistema financeiro no Brasil, foragido na Itália após seu banco ter recebido uma ajuda financeira do Banco Central do Brasil para cobrir prejuízos com operações de câmbio. Gente fina igual ela...

E por aí vai. Posso até escutar os tambores retumbantes e a voz do Silvio Santos: Vamos abrir as portas da esperança...

3 comentários:

Pirata disse...

Se estivesse acompanhando a novela, até seria interessante, mas...
ahahaahahahahahha

Alexandre Marino disse...

De todos os nomes citados no texto, só conheço Schopenhauer e Salvatore Cacciola. Quanto aos eletrodomésticos, prefiro os que não atacam o cérebro.

Ana Beatriz Lemos disse...

Confesso q tbm não assisto a novela, mas com certeza me convenceria com a propaganda de escova progressiva da Taís Araújo (que franja é aquela!?!)
Amei o blog e matei um pouco a saudade de vcs, figuras!!kkk