
E o melhor é que não sei por que.
Não há um novo amor, não há um novo emprego, nenhum novo amigo, nenhuma novidade cheia de luz.
O mesmo, o mesmo.
Mas tudo parece diferente.
Vai ver é por causa do ano novo.
Toda possibilidade parece se abrir diante de mim.
Posso?-pergunto. Sim, posso.
Há uma alegria surda na possibilidade.
Muitas não se concretizarão.
Muitas serão botões mortos antes de se abrir.
Mas elas existem, insistem em existir.
É isso, então, a felicidade?
Essa possibilidade de se alegrar com o mesmo?
As novidades são raras e passageiras.
A grande felicidade é o mesmo.
Esse mesmo denso, massudo, pesado.
É ele que nos faz.
É o que fomos, o que somos e o que seremos.
Hoje, subitamente, esse mesmo me parece maravilhoso.
Minhas mesmas pernas que já foram mais firmes.
Meus braços, minhas mãos.
Tudo que me é familiar.
O eterno gosto por café.
Os dedos finos e ágeis que quase nunca encontram anéis.
Tudo costumeiro, permeado dessa mesmice boa.
Um brinde.
Brindemos ao mesmo, esse que continuará.
Sempre.