quarta-feira, 31 de março de 2010

Feliz ano novo

Que venha o BBB 11? Não, por favor, não!

Não vou ser dissimulada. Gosto, sim, de reality shows. Programas de auditório, então, nem se fale. São ótimas oportunidades para esvaziar a mente, que se abarrota de tantos conhecimentos, aprendizados, interpretações, percepções e resoluções ao longo do dia.

Nem venha me chamar de pseudointelectual; sou intelectual sim. Isso não significa ser o suprassumo da sabedoria e cultura. Não, não. Significa ter dotes de espírito e inteligência. Significa ter gosto predominante pelas coisas do espírito e da inteligência. Eu tenho. Mas, o que é predominante não é total; portanto, também tenho gosto pelo que é irrelevante.

A intelectualidade também carrega consigo a capacidade de repúdio à hipocrisia. Então, vou dizer alto: A-DO-RO reality shows.

Mas, o Big Brother Brasil já não desce mais pela minha garganta. Assim como as novelas. Mesmo as imbecilidades têm que evoluir, concorda? No entanto, parece que é o contrário. Quanto mais superado o formato do programa fica, parece que se torna mais atraente para as pessoas.

E eu me pego indagando: por que deixo de gostar dessas bobagens televisivas, se elas continuam a mesma coisa, com o mesmo estilo que me fez gostar nas primeiras edições?

É porque fico com ciúmes. Ciúmes de shows de televisão que atraem mais as pessoas do que um bom papo com um amigo, do que tomar um iogurte gelado ali na esquina, do que sair pra passear pela cidade, ver gente, ao vivo. Nunca fui do tipo que deixa de fazer algo (no sentido vivencial da coisa mesmo), para ficar assistindo, hipnotizada, a um programa. O que se vê, pode ser visto de novo numa reprise ou no youtube, hoje, mais do que nunca. O que se vive, não. Tampouco gosto de falar sobre um mesmo assunto por muito tempo. Cansa e é chato.

E essa passou a ser minha birra com o BBB e as novelas. Nem é pelo estilo de programa (até porque, quem vê Solitários do SBT, pode falar o quê?), mas pelo poder hipodérmico – aquele do Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick – que eles concentram. Nessa hora, parece mesmo que a massa somos nós e que somos homogêneos.

Todos se prendem, se amarram, se envolvem nas tramas e, no dia seguinte, o papo é só esse. Para onde se olha, se vê o BBB. O Dourado campeão. Não tem como fugir. EU NÃO QUERO SABER! Mas, acabo sabendo; como não ficar sabendo?

Acho que não é preciso mais desejar feliz ano novo para os brasileiros depois do carnaval. O marco, agora, é o BBB.

Feliz ano novo. Temos os próximos nove meses para voltar a viver.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Bolinhas de sabão



Tomei 500 mgs de saudosismo ontem à noite. Tava sentada, pensando. Sabe aquelas coisas absolutamente necessárias e adiáveis? Pois bem...era essa a pauta. Coisinhas que dependem de um estalar de dedos e que ainda assim postergamos cada dia mais. O fato é que estava sentada em frente ao computador e eis que vem a mim aquela entidade brincalhona, o destino. O destino é um sambista. Chapéu panamá, cavanhaque e duas covinhas bem marcadas e diametralmente opostas nas bochechas. Ao menos foi sempre assim que o imaginei. E mascando chicletes, claro. Entre uma bola e outra, o danado do espírito cisma em fazer gracinhas com a cara da gente. Pois dessa vez fui eu a escolhida. Tava distraída, quem mandou? Sei que de repente aquela sensação de flechada, o corpo arrepiado, vontade de correr e dançar, tudo junto. O motivo? Segue no link... quem tiver mais de 25 lembra. Cliquem em Lucy & Linus.


http://www.radio.uol.com.br/#/busca/musica/Linus%20&%20Lucy

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Contadora de histórias (I): O furto

Há dias em que acordo com vontade de ser igual ao Forrest Gump: contar histórias ou sair correndo. Hoje, resolvi contar histórias.

Um dia, minha bolsa foi roubada. Tinha tudo lá dentro; e até mais um pouco. Desde o óbvio e indispensável, como carteira, documentos e chaves, até o supérfluo, como guarda-chuva, iPod, agenda e óculos de sol.

O meliante fugiu bem rápido. Debaixo de chuva, seus pés calçados em chinelos desgastados pisavam – um tanto trôpegos dada a adrenalina do momento – nas poças de água e lama formadas pelo temporal que caía na noite de uma quarta-feira qualquer, em uma quadra qualquer do plano piloto. Dois rapazes prestativos ainda tentaram correr atrás dele. Em vão.

Enquanto isso, eu, cheia de sacolas de compras nas duas mãos (aliás, até hoje tento imaginar como o malandrinho conseguiu arrancar a bolsa de meus ombros e passá-la por minhas mãos grudadas firmemente aos sete ou oito sacos plásticos cheios de enlatados e congelados, um tanto pesados, sem derrubar tudo. Acho que ele era mágico.)... O que eu dizia? “Dizia eu que a aritmética...” Não, não, dizia eu que fiquei ali parada, enquanto os rapazes corriam atrás do pivete (sim, era um menino, um adolescente franzino), ainda com as sacolas nas mãos, um tanto pasma, meio sem entender o que havia ocorrido.

Ainda com essa sensação, pensei no que fazer. “O que as pessoas fazem nesse caso?” Gritei um pouco – não é isso que se faz? – Pega ladrão! Socorro! Coisas do tipo. Ah, sim, não pense que foi efeito retardado; esse pensamento-e-ato se passou no segundo seguinte ao do ocorrido. Não se admire com minha reação; em 27 anos de existência, nunca havia sido roubada. Furtada, aliás, como disse o delegado que fez o “bê ó”. Furtada, na condição de transeunte, para ser mais exata na transcrição das palavras dele.

Tudo o que se passou depois, não vou detalhar tanto. O boletim de ocorrência, registrei. O celular e os cartões, bloqueei. A fechadura de casa, troquei. Os documentos, achei (parece que o furtador não se interessou pela minha carteira de motorista, minhas carteirinhas de estudante e do clube, nem meus cupons promocionais de restaurantes e largou tudo isso no meio do caminho). Enfim, ficou tudo bem.

Mas, me ficou um vaziozinho, uma pontinha de não-sei-quê. Não sabia o que era. O susto já tinha passado. Eu estava intacta. Meus documentos e cartões, protegidos. Ok, pensei na ineficácia do Estado sim, na falta de segurança, no crescimento da violência urbana, na oportunidade de educação que o coitado do garoto talvez não tivesse tido.

Dias depois, entendi o que eu sentia. Era saudade. Das pequenas coisas que faziam parte do meu cotidiano, que estavam naquela bolsa, mais difíceis de serem recuperadas do que meus documentos. E das quais eu gostava. Eram minhas. Bem minhas.

A agenda, com anotações do que teria que fazer nos próximos dias, com contatos e rabiscos, com receitinhas aleatórias e mapa da casa de amigos. A bolsinha de maquiagem, com aquele batom cremoso, de cor marrom, com brilho, que ganhei de presente da minha mãe e nunca vi igual por aqui. O óculos de sol grande e redondo, que tinha uma alça quebrada, colada com super-bonder pelo meu marido, que o fez com todo cuidado e carinho. O guarda-chuva vermelho, que era pequeno, fácil de guardar e me salvou de tanto apuro nos dias de chuva intensa ao sair do cabeleireiro – e me colocou em um tanto de apuro também nos dias de tempestade, já que era frágil e virava do avesso na primeira rajada de vento forte. O iPod, não o iPod em si, mas os 3,9 giga de músicas contidas nele, escolhidas com esmero, na ordem em que eu gostava de escutar.

Aquela caneta sem tampa.

Aquele pente sem dois dentes.

Há coisas que não se recuperam. Se substituem. Que são nossas durante muito tempo, mas no minuto seguinte não são mais. Que parecem fúteis, mas fazem falta. Não pelo poder de usufruto, e sim pelas características únicas que adquirem a partir do momento que passam a fazer parte de você. São suas. Bem suas.

Espero, pelo menos, que o ladrão faça bom proveito das coisas ex-minhas.