domingo, 4 de setembro de 2011

Ao mestre, com carinho


A morte é a curva da estrada,
Morrer é só não ser visto.
Se escuto, eu te oiço a passada
Existir como eu existo.

A terra é feita de céu.
A mentira não tem ninho.
Nunca ninguém se perdeu.
Tudo é verdade e caminho.

Fernando Pessoa
(in Cancioneiro )


Eu, Maria Clara e Letícia temos muitas diferenças, mas somos unânimes em reconhecer Chico Daniel como um grande mestre. Chico faleceu neste sábado, 03/09. Chico, nos encontraremos depois da curva.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tenho medo!


Não entendo isso de exaltar a coragem e rechaçar o medo. Na minha experiência, a coragem muitas vezes foi temerária e o medo acabou se revelando prudente. É que o medo traz essa pecha de covardia, de despreparo, de insegurança. Bacana mesmo é ser seguro, firme, assertivo. Quanta bobagem.
Hoje, quando me pego com medo – e tenho sentido muito medo – respeito. Busco entender a motivação, penso, reflito enfim. Hoje sinto mais medo por que já fui de sentir muita coragem. De dar a cara à tapa, assumir a responsabilidade, aceitar desafios. Em algumas ocasiões deu certo, mas em outras foi desastroso.
Não é crise de arrependimento não, heim? que fique claro. É que essa ode à coragem me aborrece. Isso e essa nova onda de cupcakes. Que me desculpem os fãs, mas aqueles bolinhos são ridículos. Arrumadinhos, coloridos, cheios de chantilly e... pífios, carentes de sabor, pouco substanciosos e ruins como os ataques de coragem.
Ando com medo, cheia de novidades. Emprego novo, rotina nova, novos planos e outras cositas. Sou taurina, com quatro casas em touro. As mudanças me causam desconforto, portanto. Sinto-me hoje mais preparada para os desafios e ainda assim mais temerosa do que há seis ou oito anos. Ponho a culpa na experiência ou nas decepções? prefiro acreditar que existe espaço para o medo, para a insegurança. Mas é preciso coragem para senti-los.

sábado, 2 de julho de 2011

Como fui me apaixonar?

Momento de massagem matinal.



- Crio até lagarta, mas gato não. Era o que costumava dizer.
- Sou do tipo abobalhada, me identifico mais com os cachorros. Era a sequência da primeira frase.
Descobri que ambas as premissas estavam erradas. Sim, eu me identifico com gatos e não, não sou do tipo abobalhada (ao menos não totalmente). Há cinco anos, crio duas gatas.
Existe nos felinos uma altivez fascinante. Vivo a me perguntar quem é dono de quem nessa relação. Os gatos imprimem respeito, não imploram carinho, não precisam de nós.

Assim que as gatas chegaram até mim, tive pena. Tão pequenas, tão abandonadas, tão frágeis. - Não, não e não!!! Gritaram as bichanas em coro. Piedade nunca!!! - arremataram, fazendo-me lembrar do parentesco óbvio com o rei da selva.

Ao menos para mim, o amor e a admiração são indissociáveis. Admiro minhas gatas. Admiro a independência, a inteligência, a agilidade, mas principalmente a petulância. Isso de não me olhar de baixo para cima, de não suplicar pelo meu amor.

Na convivência diária com estes seres misteriosos, descobri que auto-estima é o melhor afrodisíaco que existe. Minha gata mais arisca acaba de soltar uma de suas pérolas.
- Ainda que você seja uma gata vira-lata, maltratada e faminta, olhe para o mundo com a cara de tédio que ele merece.