Não vou ser dissimulada. Gosto, sim, de reality shows. Programas de auditório, então, nem se fale. São ótimas oportunidades para esvaziar a mente, que se abarrota de tantos conhecimentos, aprendizados, interpretações, percepções e resoluções ao longo do dia.
Nem venha me chamar de pseudointelectual; sou intelectual sim. Isso não significa ser o suprassumo da sabedoria e cultura. Não, não. Significa ter dotes de espírito e inteligência. Significa ter gosto predominante pelas coisas do espírito e da inteligência. Eu tenho. Mas, o que é predominante não é total; portanto, também tenho gosto pelo que é irrelevante.
A intelectualidade também carrega consigo a capacidade de repúdio à hipocrisia. Então, vou dizer alto: A-DO-RO reality shows.
Mas, o Big Brother Brasil já não desce mais pela minha garganta. Assim como as novelas. Mesmo as imbecilidades têm que evoluir, concorda? No entanto, parece que é o contrário. Quanto mais superado o formato do programa fica, parece que se torna mais atraente para as pessoas.
E eu me pego indagando: por que deixo de gostar dessas bobagens televisivas, se elas continuam a mesma coisa, com o mesmo estilo que me fez gostar nas primeiras edições?
É porque fico com ciúmes. Ciúmes de shows de televisão que atraem mais as pessoas do que um bom papo com um amigo, do que tomar um iogurte gelado ali na esquina, do que sair pra passear pela cidade, ver gente, ao vivo. Nunca fui do tipo que deixa de fazer algo (no sentido vivencial da coisa mesmo), para ficar assistindo, hipnotizada, a um programa. O que se vê, pode ser visto de novo numa reprise ou no youtube, hoje, mais do que nunca. O que se vive, não. Tampouco gosto de falar sobre um mesmo assunto por muito tempo. Cansa e é chato.
E essa passou a ser minha birra com o BBB e as novelas. Nem é pelo estilo de programa (até porque, quem vê Solitários do SBT, pode falar o quê?), mas pelo poder hipodérmico – aquele do Laranja Mecânica, de Stanley Kubrick – que eles concentram. Nessa hora, parece mesmo que a massa somos nós e que somos homogêneos.
Todos se prendem, se amarram, se envolvem nas tramas e, no dia seguinte, o papo é só esse. Para onde se olha, se vê o BBB. O Dourado campeão. Não tem como fugir. EU NÃO QUERO SABER! Mas, acabo sabendo; como não ficar sabendo?
Acho que não é preciso mais desejar feliz ano novo para os brasileiros depois do carnaval. O marco, agora, é o BBB.
Feliz ano novo. Temos os próximos nove meses para voltar a viver.
